Muitas vezes escutei que o mundo só se tornará melhor quando evoluirmos moralmente. Um dia procurando
essa tal evolução moral, fui consultar o Evangelho Segundo o Espiritismo. Abri
uma página aleatória, a 220, que deu no capítulo XVII: Sedes Perfeitos. Peguei um bloco de
anotações para fazer um resumo das coisas mais importantes e comecei o estudo.
“A essência da perfeição é a caridade na
sua mais larga acepção, porque ela implica na prática de todas as outras
virtudes” foi a primeira coisa que eu anotei, porque ali estava o significado
da verdadeira perfeição: a caridade. Foi o que Jesus nos ensinou quando disse
“Amai a Deus sobre todas as coisas e ao
próximo como a si mesmo”, e foi o que eu não tinha aprendido, mesmo depois de
decorar milhares de vezes essa frase no catecismo, de repeti-la incontáveis vezes nas missas. Entendi o verdadeiro sentido dessa frase naquele instante:
que amar o próximo é ser caridoso com ele. E o que é ser caridoso? Jesus também
ensina: “é amar os inimigos, fazer o bem
àqueles que nos odeiam, orar por aqueles que nos perseguem”. Mas aí Jesus
já estava pedindo demais. Se já é difícil fazer isso tudo com quem a gente gosta,
imagina com os nossos inimigos? Definitivamente, seria para sempre um
imperfeito.
Seguindo
a leitura, já despontado com a minha triste constatação, encontrei a parte do
texto que mais tinha haver comigo, a parte dos maus espíritos que são aqueles
que “não rompem facilmente com seus
hábitos, se apegam mais aos fenômenos do que a moral que lhes parecem monótona,
pedem aos espíritos para iniciá-los, sem se perguntarem se se tornaram dignos de
penetrarem nos segredos do Criador”. Era exatamente isso que eu estava
fazendo. Tentando entrar no mundo do Criador sem antes saber se sou digno, e
sem antes estar disposto a mudar os meus hábitos e defeitos. Já havia desistido
antes de começar. Já havia me condenado à imperfeição sem antes saber que caminhar
para ela era justamente condenar-se pelo mal que os outros fizerem por você e retribuir com bem. É ser indulgente para com as fraquezas alheias, para que possam ser indulgentes com suas próprias fraquezas.
Nos esforçamos tanto quando queremos algo, porque então, não nos esforçamos pelo menos um
pouco para mudar o espiritual? Achamos que a perfeição é inatingível, que só
Deus é perfeito e que só Ele é digno dela, mas esquecemos que Deus não está no
céu, nas igrejas, nos quadros e imagens. Esquecemos que Deus está dentro de nós, e sendo parte Dele, nós
estamos fadados à perfeição, demore o quanto demorar, doa o quanto doer.
Decidido
a mudar meus hábitos e comportamentos, comprei um caderninho e decidi que leria
todos os dias o Evangelho e faria um resumo nele. Hoje, um ano depois, abri mesmo caderno e vi que só tinham 3 páginas escritas do meu primeiro e único estudo do
evangelho. Era a imperfeição
impedindo a minha evolução. Era eu impedindo que um novo eu surgisse. Hoje pretendo
fazer um novo estudo mais tarde, tentar ter uma constância que provavelmente
não terei. E assim, a passos lentos vou caminhando para a (quase) inatingível
perfeição.
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